Sunday, November 05, 2006

PESQUISA PODE REVOLUCIONAR TRATAMENTO DA TROMBOSE

PESQUISA PODE REVOLUCIONAR TRATAMENTO DA TROMBOSE

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concepção de um novo medicamento para o combate da trombose e outros
problemas cardiovasculares está mais próxima. A descoberta de
substâncias análogas a heparina em ascídias (conhecida como
batata-do-mar) realizada por pesquisadores do Laboratório de Tecido
Conjuntivo do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho promete
revolucionar o tratamento terapêutico atual, a base da heparina
comercial produzida a partir de intestinos e pulmões de bovinos e
suínos.
O pesquisador Mauro Pavão, professor do Instituto de Bioquímica Médica
da UFRJ, assegura que a heparina produzida a partir de invertebrados
marinhos será tão eficaz quanto a comercial e, até o momento, apresenta
menos efeitos colaterais.
Após analisar a estrutura externa da batata-do-mar, os estudos se
voltaram para a estrutura interna (vísceras e intestino) do animal
marinho, onde foram encontrados os verdadeiros análogos da heparina
(glicosaminoglicanos), ou seja, compostos que são muito parecidos
estruturalmente com aqueles encontrados na heparina comercial. Este é o
segundo medicamento de origem animal mais utilizado no mundo, e é
indicado antes de qualquer tipo de cirurgia e na prevenção de alguns
tipos de infarto e de outros tipos de problemas cardiovasculares, como
a trombose profunda. Através de testes in vitro, a equipe de pesquisa
do Laboratório de Tecido Conjuntivo pôde determinar a estrutura dos
análogos, confirmar sua ação anticoagulante e detectar os mecanismos
que estavam envolvidos nesta ação. “Nós partimos para testes em tubos
de ensaio para verificar se os compostos encontrados também
apresentavam característica anticoagulante. Foi constatado que os
análogos da heparina eram muito anticoagulantes e tinham uma atividade
semelhante a da heparina, porém alguns com potência menor”, ressalta o
professor do Instituto de Bioquímica Médica e um dos coordenadores da
pesquisa, Dr. Mauro Pavão. Ao determinar como os análogos funcionavam,
os pesquisadores verificaram que os mecanismos de funcionamento eram
iguais ao da heparina comercial. De acordo com o pesquisador, o passo
seguinte foi verificar se a ação anticoagulante estava presente quando
os análogos eram utilizados em animais. “Sabendo que a heparina é
utilizada na prevenção da trombose, principalmente, da trombose
profunda, nós desenvolvemos em laboratório vários modelos experimentais
de trombose venosa e arterial (indução da patologia em cobaias) para
verificar a ação anticoagulante dos análogos”, explica o professor
Mauro Pavão.
Após verificar a capacidade antitrombótica destes compostos, os
pesquisadores desenvolveram também testes capazes de identificar se os
análogos da heparina provocavam sangramento, principal efeito colateral
da heparina. “Os análogos da heparina, ao contrário da heparina
comercial, não provocam sangramento. Alguns análogos até causam este
efeito colateral, mas a grande maioria não”, ressalta Pavão.
Quando o assunto é comercialização dos análogos, o professor Mauro
Pavão diz que é necessária muita cautela. “Antes que os análogos da
heparina sejam utilizados comercialmente para tratamento intravenoso, é
preciso que muitos testes toxicológicos em cobaias sejam realizados e,
posteriormente, em humanos”, explica.
Expansão da pesquisa
Nos últimos dois anos a pesquisa avançou em direção a novos caminhos.
Além da identificação antitrombótica e anticoagulante dos análogos da
heparina, outras funções foram encontradas nos compostos. Ele tem ação
antiinflamatória para o tratamento intestinal e renal e com resultados
bastante positivos, em alguns casos, com efeito melhor que o
proporcionado pela heparina comercial. “Através da descoberta de um
único composto (os análogos da heparina), nós estamos, cada vez mais,
agregando valor a ele com o desenvolvimento de novas pesquisas. E é por
isso que os testes clínicos são importantes. Eles podem direcionar a
dosagem medicamentosa a ser seguida para cada tratamento a fim de
alcançar o resultado desejado”, enfatiza Pavão.
Há também uma linha de trabalho direcionada à ação antimetastática, a
fim de verificar o efeito inibitório dos análogos da heparina na
proliferação de células cancerígenas.
Vantagens
Uma das vantagens da utilização dos análogos da heparina é a menor
possibilidade de contaminação com agentes patogênicos como, por
exemplo, o mal da vaca louca. Além disso, é menos agressivo para o
tratamento da trombose, pois causa menos efeitos colaterais. Outro
aspecto importante é que eles conseguem se ligar a vários fatores de
crescimento como, por exemplo, aqueles que permitem o crescimento das
células, proliferação de células tumorais, secretação de substâncias e
formação de vasos sangüíneos que alimentam os tumores, impedindo que os
fatores atuem.
Entretanto, o cientista afirma que o fornecimento de matéria-prima
precisa ser amplo para o desenvolvimento dos medicamentos que atendam
às demandas. “O futuro da pesquisa, entre outros estudos, depende de se
achar uma metodologia para produzir uma fonte ilimitada de recursos, ou
seja, batatas-do-mar em larga escala. Caso contrário a fonte de
matéria-prima se esgotaria, além de causar a degradação do meio
ambiente”, ressalta o professor.
Curiosidade
Em muitos países do Oriente Médio, a batata e o pepino-do-mar são
amplamente consumidos, o que comprova que não há nenhuma
contra-indicação ao uso oral dos análogos da heparina. Neste sentido,
foram realizados testes em cobaias para comprovar a eficácia da ação
anticoagulante de uma medicação via oral para o tratamento preventivo
da trombose. “A partir desta descoberta, a utilização dos análogos da
heparina como agente terapêutico se tornará mais fácil por poder
utilizá-lo como suplemento alimentar”, explica o biólogo.
Quando tudo começou
A pesquisa surgiu por acaso, em 1986, quando um aluno de doutorado do
professor Paulo Mourão, que hoje é o coordenador geral do Laboratório
de Tecido Conjuntivo, resolveu pesquisar o exoesqueleto (estrutura
externa) da batata-do-mar.
Segundo o professor do Instituto de Bioquímica Médica e um dos
coordenadores da pesquisa, Dr. Mauro Pavão, há um amplo debate sobre
por que se investe tanto em pesquisas de base e não em pesquisas
aplicadas. No entanto, ele explica que é a fase inicial de uma pesquisa
que alicerça a sua aplicação. “Muitos questionam sobre o fato da
Universidade investir em pesquisa de base e não em pesquisa aplicada.
Porém, o que ocorre é que através da primeira etapa da pesquisa, dentro
das várias fases que ela possui, que importantes descobertas são
feitas”, explica Pavão. O projeto desenvolvido pelo Laboratório de
Tecido Conjuntivo do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho é
coordenado pelos professores Paulo Mourão e Mauro Pavão, contando com a
participação dos professores, alunos de graduação (iniciação
científica) e pós-graduação (mestrado e doutorado) do Instituto de
Bioquímica.
Além do apoio dado pelo CNPq, da Faperj e Fundação Ary Frauzino para a
pesquisa contra o câncer, recursos internacionais do National Institute
of Health também financiaram parte da pesquisa realizada.


Publicado em: 26/07/2005

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